sábado, 5 de fevereiro de 2011

O desafinar da Bossa Nova.



Ontem, em um bar com velhos amigos meus, apareceu conversas sobre a indústria fonográfica no Brasil e o sucesso da Bossa Nova fora daqui. Dentro disso, comentávamos sobre as relações da música produzida e o país. Lembrei de um texto que estava pela metade por aqui:

Em um texto que o foco é a canção “Desafinado”, de Tom Jobim e Newton Mendonca, interpretada em 1958 por João Gilberto, não se pode deixar de lado uma breve apresentação de pelo menos um dos compositores e do interprete, além do início das carreiras, focando suas influências, o que resultou na “produção” da Bossa Nova.
Em 1951, João Gilberto com o seu grupo “Garotos da Lua” (sendo João o solista do grupo) gravam canções com toques de bolero e samba, e em 1952, já em uma gravação solo, apresenta canções de samba-canção (puxada a bolero e samba-canção) com balada norte-americana – que será lembrada posteriormente como uma das principais influências na Bossa Nova -. Já Tom Jobim, em 1955, é tido como compositor de samba-canção por completo, com suas músicas marcadamente iniciadas com o bolero. Vale ainda lembra que tanto Jobim como João Gilberto ganharam, no seu início, grande fama nos Estados Unidos e permanecem por lá de 1963 a 1967, conquistando assim grande sucesso no ramo do Jazz. Mas, principalmente Tom Jobim, era considerado um compositor de música brasileira, com suas músicas sendo vistas também seguindo uma linha do jazz latino.
“Que isso é Bossa Nova/ Que isso é muito natural”. No trecho, cantado pelo interprete, já está perceptível que a Bossa Nova é uma novidade para aquele que escuta. No período pós-guerra, quando é composta, a influência cultural tanto brasileira, quanto mundial, tem seu foco modificado. O que antes era a representação da Europa vira Estados Unidos. É a vinda do Swing para o Brasil e para a França, o Be-bop aparecia como “apenas turnês”, um momento de passagem, além disso, se tem como principal influência naquilo que seria produzido no Brasil, a canção norte-americana (essa influência sendo maior do que qualquer tipo de jazz).
“Meu comportamento de antimusical”. O trecho apresenta a crítica à estética diferenciada presente na Bossa Nova, que pode ser evidenciada na batida e no cantar de João Gilberto. A Bossa Nova é fundamentalmente melódica e João aproxima o canto à indeterminação da fala (como foi evidenciado por Lorenzo Mammi em alguns textos). O centro da Bossa Nova é o canto (o que pode estar diretamente ligado ao título e tema da canção, desafinado), João Gilberto propõe no cantar uma conversa de tom intimista, além disso, a obra soa como espontânea e natural, existe a presença de uma tensão no canto e na fala, causando instabilidade na canção (diferente das notas musicais que constituem o canto, provocando a estabilidade). Lorenzo Mammi apresenta no texto “João Gilberto e o projeto utópico da Bossa Nova” que: “A essência está em algo mais recuado, numa determinada inflexão da voz, no jeito de pronunciar uma sílaba que é comum a palavra e ao canto” o que está evidente nas características de João Gilberto. Já sua batida, é samba. Nunca foi jazz. Segue uma certa regularidade (“... pois a base é uma só” – Sambinha de uma nota só), já no jazz, os acordes são normalmente atacados de maneira irregular. A regularidade presente na Bossa Nova de João Gilberto pode ser contestada em “Chega de Saudade”, quando existe a alternância da base com o princípio da não-regularidade (a regularidade está apenas em algumas seqüências de acordes), que possui 4 variações principais. Já em “Bim-Bom”, a canção e a música se integram em polirritmia, a voz atua nos espaços (acordes) que a música possibilita.
“Fotografei você na minha Rolleyflex” demonstra a Bossa Nova como um elemento cultural da classe média para cima (visto que posteriormente foi e é um símbolo nas novelas globais do escritor Manuel Carlos). Essa classe média era tradicionalmente improdutiva e reclama uma condição cultural mais rica, devendo se profissionalizar, abandonando o amadorismo. Se tem claro que essa linguagem artística, ligada a um processo histórico que resultou no fracasso, teve seu êxito independente desse fracasso (elementos que estão evidenciados no texto citado de Lorenzo Mammi). Na Bossa Nova há algo que outras tradições musicais não possuem, resultado de toda sua influência e uma atividade do músico altamente especializada (o que também é evidenciado pelo autor).
Por fim, vale ainda lembrar que a Bossa Nova expressa emoção, como já foi dito sobre o cantar de João Gilberto, e pode ser visto no trecho: “... os desafinados também tem um coração”, e com isso pode-se considerar que a canção “Desafinado” apresenta um panorama do que era e é a tal Bossa Nova.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Welcome back my friends to the show that never ends...



O título não é apenas um ‘olá’ a casa abandonada (afinal de contas, criei isso daqui, abri portas e deixei acumular teias e poeira), mas também a principal frase da música e do disco que me apresentou as idéias que serão colocadas nesse texto.
Brain Salad Surgery é um grande disco. Em uma modesta opinião a maior obra do trio Emerson, Lake & Palmer, mas não é o que penso tratar aqui, e longe de ser um texto para se discutir qualidades musicais e criativas (quem sou eu para tratar disso). O jogo em questão é a evolução das mídias para reprodução musical. Escuto agora esse disco gravado em DTS (Digital Theater Systems), com seis canais, me sento no centro da sala e começo a ouvir. Uma experiência considerável, mas, existe algum valor? O que representa essa mudança toda? Será que não se perde nada, uma vez que esse disco foi gravado e lançado em vinil em 1973? E o que se ganha?
Bom, essa história toda veio quando um alguém apareceu com essa gravação em DTS, me explicando todo eufórico da tal ‘tecnologia’ (isso aconteceu há uns 2/3 anos, mas só agora me veio certa inspiração), vindo com a frase: “na época de lançamento do disco, muito fumo foi queimado para se entender isso daí”. Será que o fato de você agora estar rodeado por essa música (pelos seis canais), não se precisa de nenhuma substância para manter os ‘estados alterados da mente’? Seria essa era a idéia dele?
Na realidade, o que também pode ser jogado em questão é a tal necessidade dessas substâncias. Elas são ou eram mesmo necessárias? (não entro em questão de ser um movimento, e nem mesmo o que proporcionou. A questão está apenas no fato de se entender a música) Não foi a questão proposta inicialmente na publicação, mas, tal discussão pode estar relacionada, visto pela fala colocada no parágrafo anterior. O grupo fez uma gravação de show com essa música, foi chamado de ‘Pictures at an exhibition’ (como o álbum – ou como a suíte em 10 movimentos composta para piano por Modest Mussorgsky), e durante a apresentação de 'Karn Evil 9', música que contém a frase do título desse texto, a imagem aparece em negativo e, após um tempo, é trocada por quadrinhos da Marvel. Ouso assim chamar os efeitos provocados pelas imagens ou pelos sintetizadores e o piano tocado por Keith Emerson, superiores a quaisquer outros tipos. Lembro ainda que o músico Frank Zappa (que não tem nada com essa publicação) foi conhecido por demitir qualquer músico de sua banda que aparecesse bêbado ou chapado em um show ou ensaio, além de dizer incontáveis vezes que não usava drogas. Mas quanto a esse assunto (necessidade do uso de substâncias ou não), cabe a cada um ter a sua opinião.
O ponto positivo da gravação em DTS:
1 – Com a gravação do álbum em um cd, ele pode ser ouvido por inteiro, de uma só vez. No caso do vinil, a música em questão teve que ser dividida em partes (mas não se perdeu com isso, uma vez que ele foi editado especialmente para essa divisão existente) – esse ponto não se dá pelo formato de gravação, e sim pela mídia, o cd.
2 – Para um músico, a gravação em 6 canais possibilitou a melhor compreensão de todos os instrumentos. Cada movimento pode ser analisado meticulosamente (possibilita assim até uma melhor interpretação de um ouvinte qualquer).
Porém, defendo o vinil com unhas e dentes. A sensação de pegar a tal bolacha e colocá-la na picape com todo cuidado, para que nenhum dano seja causado, já é algo incomparável. Já ouvi de alguns que isso é maluquice, e de outros, que é uma paixão (às vezes até invejável). Para se ouvir um vinil deve-se seguir um ritual, nada pode ser quebrado (literalmente), e a posição final, de apenas admira-lo girando enquanto toca,... (conclusão para se tirar sua própria conclusão).
Por fim, valorizamos a capa. Ela só é vista hoje em dia como uma arte porque, no seu início, era grande e visível. Deveria ali existir uma arte, algo que chamasse a atenção (que variam. Como exemplo, coloco Grand Wazoo do Zappa e White Album, dos Beatles).
Passamos por evoluções, sim. Respeitamos e valorizamos o antigo, a origem da forma.

Como indicação, o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gdSHeKfZG7c
E tudo vai sendo esquecido...